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Grande Rota do Zêzere: Do Covão d’Ametade a Manteigas (etapa 1.1)

5.6 min readPublished On: 07/04/2021Categories: CrónicaTags: , ,

A Grande Rota do Zêzere (GR33) é um enorme percurso pedestre que acompanha o rio desde muito perto da sua nascente, até ao ponto em que este se encontra com o Tejo. São 370km de paisagens tão encantadoras quanto diversas, numa longa caminhada pelo interior do país. Algumas etapas podem ser feitas em BTT ou canoa.

Os ecossistemas fluviais são incríveis têm uma enorme riqueza em termos de fauna e flora e são também dotados de uma grande diversidade desde a nascente à foz, transformando a paisagem por onde passam. Felizmente, temos ainda várias zonas de rios que não foram transformadas pelo homem e conservam todas as características que tornam estes ambientes tão peculiares.

O desafio

Em 2018, desafiei um grupo de amigos para percorrer a Grande Rota do Zêzere, um bocadinho de cada vez. Fomos 18 os que começámos esta aventura – uma logística que impunha respeito, e que conto mais à frente neste artigo. Mas mesmo com algumas peripécias, os primeiros quilómetros começaram a ser feitos e deixaram o bichinho para continuar.

O covão d’Ametade 

O Zêzere nasce a cerca de 1900m de altitude, na Serra da Estrela, junto ao Cântaro Magro, um incrível relevo que se destaca na paisagem desenhada pelos glaciares que a ocuparam. A partir daí, desce a pique até ao Covão d’Ametade, um lugar que aconselho a que visites nas 4 estações do ano, tal é a mutação que sofre ao longo dos meses. 

É aqui que começa a Grande Rota do Zêzere e foi a partir daqui que, após um curto passeio para apreciar o local, começámos a descida, com o rio como companheiro.

Covão d'Ametade em Abril

Covão d’Ametade

A descida

O céu estava a ameaçar problemas, mas depois de tanto trabalho não íamos desistir. Depois de um curtíssimo percurso por estrada, virámos à esquerda e descemos em direcção ao curso de água. A descida é suave e permite-nos ir apreciando a paisagem. O rio não passa de um pequeno fio de água, e, por vezes, quase nos esquecemos da sua presença. Parece impossível que seja este pequeno curso de água a encher as barragens de Bouçã, Cabril e Castelo de Bode, vários quilómetros a sul de onde nos encontramos.

Não encontramos companhia a não ser uns dos outros. Ao longe vê-se a vila de Manteigas, destino final desta primeira etapa.  Apesar do céu cinzento, o tempo não está frio. Foi, aliás, uma escolha premeditada fazer este percurso em Abril. No Verão a Serra transforma-se num pequeno forno e nas zonas em que não há sombra é difícil caminhar ao sol.

A chuva deu o ar da sua graça

A meio caminho, as ameaças tornam-se realidade – começa a chover – e aqui, bom, não há muito a fazer… Estamos tão longe do início como do fim (os dois únicos pontos em que temos carros), e não temos grande protecção de árvores pelo que não nos resta grande solução a não ser continuar a andar. Lembrei-me muito da frase “O que não tem remédio, remediado está”. Não havendo abrigos para onde ir, mais vale encarar a realidade e seguir caminho, sabendo que vamos ficar molhados até aos ossos. 

Já estávamos conformados com a nossa sorte, de tal maneira que ainda parámos para conversar calmamente com um pastor. Cruzou-se connosco e estava bem mais preparado do que nós para a chuva com o seu capote e boina. Nós e os nossos impermeáveis ficámos cheios de inveja! 

Chegados ao fim, havia que decidir: continuamos para a segunda etapa? Sim ou não? A vontade com que começámos o dia ficou afectada pela chuva e pelo desconforto que já sentíamos no corpo. Depois de um curto debate, decidimos dedicar-nos à nossa actividade preferida: sentar-nos à mesa com petiscos e vinho. Uma parte do grupo seguiu para casa para avançar com os banhos. Três de nós sacrificámo-nos pelo colectivo e fomos a Manteigas comprar produtos regionais para o jantar.    

O abrigo 

Durante estes dias ficámos alojados num dos sítios mais inusitados onde já dormi. Uma antiga escola primária, em Inguias, reabilitada pelos escuteiros de Belmonte, com cozinha equipada e balneários com água quente, e quartos para 18 pessoas com camas e beliches feitos com postes de madeira reaproveitados e cordas. Não é fácil encontrar alojamento para um grupo de 18 pessoas e não só ficámos bastante confortáveis como nos divertimos muito com um espaço tão inusitado.  

Alojamento em Inguias

Um dos quartos do nosso alojamento

Logística

Bom, e agora a parte complicada… Todos os 18 queríamos percorrer a Rota do Zêzere por isso não tínhamos ninguém para ficar de fora a garantir as boleias. Assim, foi preciso montar um esquema para levar 18 pessoas (4 carros) para o início da Rota para ficarem no ponto de partida. Depois, levámos os 4 carros para o ponto de chegada, para que os carros estivessem disponíveis no final da etapa. E depois, para que os condutores dos 4 carros voltassem ao ponto de partida, houve um carro que voltou para o início.

No final, ficámos felizes por termos deixado a maior parte dos carros no final da etapa. Dois carros seguiram para casa, o terceiro levou uma parte da equipa ao ponto inicial e seguiu depois para casa e o carro que estava no ponto inicial foi a Manteigas comprar os mantimentos para o jantar. Parece complicado, mas não é… basta um bocadinho de planeamento.

Locais de interesse 

Apesar da grande riqueza paisagística e cultural da Grande Rota do Zêzere, há também uma série de locais de interesse que ficam relativamente perto do percurso. Se optares por fazer o percurso em partes e ficar alojado alguns dias junto a cada uma das etapas vais ter oportunidade de explorar património, aldeias e vilas e tornar a tua Rota ainda mais rica e interessante. Junto deste primeiro sector (etapas 1.1 a 1.3), além da vila de Manteigas, aconselho-te uma visita a Belmonte, dona de uma riqueza cultural surpreendente e terra natal de Pedro Álvares Cabral, à aldeia histórica de Sortelha e à Torre Centum Cellas, um ícone meio misterioso uma vez que há bastante debate sobre qual terá sido a sua função para a qual foi construída.

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